Roteiro Gastronômico: Ribeirão da Ilha

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O Ribeirão da Ilha é pra mim o bairro mais charmoso de Florianópolis. Está localizado no Sul da Ilha de Santa Catarina mas ainda assim, por ser tão afastado e manter ali suas raízes, parece uma cidade a parte. Ir ao Ribeirão é como sair de Floripa e ir visitar uma cidade do interior que preserva ainda seu ar bucólico e provinciano, as suas raízes na gastronomia, música, artesanato e seus costumes em geral.

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E como toda pequena cidade é na sua praça e Igreja matriz que tudo começa. Cem anos após a chegada dos 6 mil açorianos em Santa Catarina em 1650, foi trazida uma imagem de Nossa Senhora da Lapa. Sua capela foi construída pelos escravos com pedra, cal e óleo de baleia, ingrediente típico da argamassa na época, que era trazida das armações baleeiras também do Sul da Ilha.

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A arquitetura como um todo da região talvez seja a mais intacta do estado, e que mantém desde então sua formação original. As ruas muito estreitas, as casas coloridas e tipicamente da herança portuguesa e que resistem ao tempo até hoje são dignas de uma foto, cujo cartão postal não pode ficar de fora no portifólio dos turistas que buscam abrigo neste pequeno pedaço de paraíso.

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As suas águas são especiais: é uma das poucas praias de mar manso, virada para a baía entre continente e Ilha, que ainda permite o banho de mar. As condições de balneabilidade oferece ao banhista segurança na hora de se refrescar tanto na água quanto embaixo de suas centenárias árvores.

E apesar de ser ali que Santa Catarina praticamente começou a ser colonizada, o Ribeirão foi somente a terceira localidade da cidade a ganhar o status de “Vila”. Nesse título puxo o gancho do restaurante Vila Terceira, que além de um comprometimento com o resgate histórico do lugar se alinha também na gastronomia e apesar das modernas técnicas em se fazer boa comida mantém vivo um pouco da herança que os açorianos deixaram no prato do manezinho.

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Tudo começa com a cachaça produza ali mesmo no Sertão do Ribeirão, mostrando que aquela terra além de boa comida bonita arquitetura também fora palco durante muito tempo dos principais alambiques do Estado. A Anchova da Vó Guida é um excelente modo de harmonizar essa cachaça, seja numa dose única ou numa caipirinha que é pedido certo por ali, que acompanhada de uma farofa especial de camarões e molho de alcaparras transformam a simplicidade dos ingredientes ilhéus num banquete dos deuses que teria feito Sebastião Caboto transformar essa terra num domínio dos espanhóis.

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Destaque também para o Café de Ostra, um café espresso acompanhado por um doce de chocolate branco feito por uma doceira local em forma de ostra.

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O Vila Terceira tem também um polvo crocante muito delicioso que experimentei, mas pra falar de Polvo preciso citar o Santa Figueira. Com um deck maravilhoso na beira da praia do Ribeirão e com vista para toda a baía Sul, o Santa Figueira traz uma gastronomia inspirada nos mesmos ingredientes locais porém com fortes influências internacionais. É o caso do Polvo Thai, temperado à moda asiática e todo empanado, porém sequinho e crocante, além de muito macio por dentro.

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Lá também experimentei os Vol-au-vent, pequenas cestinhas de massa folhada de diversos sabores: Camarão ao Champagne, Siri ao Saquê e red curry e Funghi. Três de cada.

As Ostras são a grande vedete do lugar transformando o Ribeirão da Ilha no maior produtor brasileiro deste molusco bivalve, tão apreciado na gastronomia e com o sabor que deixa qualquer gringo na simplicidade de comê-la in natura.

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Grande especialista em Ostras, temos o Ostradamus. Jaime Barcelos é um ícone da gastronomia de Florianópolis, começou no Ribeirão fazendo cachorro-quente na noite e hoje com certeza comanda um dos melhores restaurantes que oferecem ostras na cidade. Com o exclusivo e inédito por aqui método de depuração de ostras, consegue trazer o produto mais puro e livre de qualquer risco de intoxicação ao consumidor. As ostras saem do cativeiro no mar da baía Sul e vão direto para o depurador, grosso modo um grande aquário localizado na entrada do restaurante para quem quiser conferir o processo, que faz durante 12 horas a filtragem deste molusco liberando e deixando para trás qualquer sujeira que tenha ficado durante sua vida.

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Destaque-se também o prato Arrombassi Istepô, batizado com uma expressão mais mané impossível, e que consiste numa travessa de arroz cozido com frutos do mar variados e um toque de pimenta produzida na própria casa. Outro destaque é sua vasta adega que fica no subsolo do restaurante, abaixo do nível do mar e da areia da praia.

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Do mesmo proprietário e localizado na frente da sua nave-mãe, o Café Tens Tempo traz uma diversidade para o Ribeirão: café saboroso e doces portugueses de altíssima qualidade. Funciona como um empório onde você pode adquirir alguns souvenirs do Ostradamus, com uma decoração muito robusta e linda, a perder a mirada enquanto se degusta um pastelzinho de Nata ou um pastel de Maçã, doces feitos por uma família portuguesa de São Paulo.

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Se a sobremesa do seu restaurante preferido não agradar, uma visita ao Tens Tempo é mais que certa para encerrar a sua estadia por ali.

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Outra excelente opção de gastronomia local levada a sério, com uma vista de causar suspiros nos comensais e comida saborosa a preços honestos, é a Ostreria Umas e Ostras. O nome brinca com o carro-chefe do lugar e oferece um produto tão excelente quanto sua concorrência. Ostra gorda, saborosa e numa travessa com gelo para manter seu frescor à mesa se for pedida in natura.

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Destaque-se também os seus petiscos caseiros feitos por cozinheiras que entendem tudo de manezinho e de comida, como o pastel de camarão e o pastel de berbigão, outro bivalve conhecido na cidade e figurinha carimbada no resto do país com o nome de vôngole.

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Entre um restaurante e outro você pode conhecer também um pouco do artesanato local, seja nas esculturas em barro ou qualquer peça com renda de bilro, que é herança também açoriana na nossa cidade, nas pequenas casas que comercializam estes produtos. A que mais gostei fica em frente ao Umas e Ostras, e tem lindas peças para se admirar e levar pra casa um pouco da nossa cultura, e que graças a estas pessoas ainda se fazem viva em nossa memória, resistindo o passar do tempo.

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Visitar o Ribeirão da Ilha é indispensável para quem quer conhecer Florianópolis. É mergulhar não só na gastronomia de um povo que forjou sua têmpera em quase 500 anos de história de uma colonização tipicamente portuguesa, mas também se sentir em casa, bem acolhido e confortável numa cidade pequena que a cada verão triplica seu tamanho e ganha ares de metrópole e que apesar da linda paisagem já cheira os odores da constante evolução demográfica e tecnológica.

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