Churrasquim: de carne, abraços e futebol se faz um espetinho de gato gourmet

Os melhores abraços que recebi do meu pai até hoje têm um denominador comum: o Figueirense. Não só o futebol, mas o time específico, pelo qual torcemos desde que ele me apresentou ao esporte em 31 de Maio de 1991. Seja de alegria ou de consolação, aqueles abraços sempre foram os mais sinceros. Com 8 anos eu conhecia não só o clube que iria torcer pelo resto da vida, como também o que era uma frustração futebolística (o Figueira perdia a Copa Santa Catarina para o Araranguá nos pênaltis) e, ainda por cima, a melhor comida de estádio: o espetinho-de-gato.

Espetinho-de-gato, pra quem não sabe, é aquela iguaria de carne de segunda ou terceira colocada num espeto de ferro (na época ainda permitido) assada numa dessas churrasqueirinhas de acampamento, com brasa. A quantidade de tempero e amaciante pra deixar a carne comestível era tanta que acho que era este mesmo o diferencial de sabor deste petisco. Um desses (mentira, dois) e um copo de Coca e eu já ia jantado pra casa.

churrasquim-entrada

Vinte e dois anos se passaram e essa história voltou como um filme na minha cabeça. Caminhando nos arredores do Beiramar Shopping em busca de algo pra comer, dia destes, junto com meus convivas, resolvemos entrar no Churrasquim. Já na mesa, vislumbrava uma TV com um jogo de futebol qualquer sendo transmitido ao vivo enquanto fazíamos os primeiros pedidos. Espetinho e futebol tem uma relação muito estreita.

O Churrasquim é um lugar bacana. Mais das vezes você passará na frente dele e poderá pensar duas vezes em entrar, visto que o movimento é bem intenso. Eu mesmo só entrei depois de muito passar ali e vê-lo lotado. Mas vale a pena.

O atendimento é bastante eficiente e gentil. Tem uma equipe muito entrosada com a cozinha e simpática que tira o pedido e serve numa gentileza só.

churrasquim-cardapio

Eles não oferecem apenas os espetinhos. Além do churrasquinho no palito a casa conta com empratados, que chamam de combos, compostos com carne, arroz salada e fritas ou maionese; combos para crianças; grelhados no rechaud, que são porções de carne fatiada que acompanha pão e molho; sanduíches, saladas e petiscos pra atender todos os gostos.

Mas eu fui mesmo nos espetinhos. Ou na “Correria de espetinhos”, como eles chamam uma espécie de rodízio. Nesta modalidade os garçons passam com alguns espetinhos dos mais variados sabores, recém preparados, e você escolhe o que quer comer. E, logicamente, paga só o que comer, não um preço fechado pelo rodízio.

Espetinho de frango com bacon
Espetinho de frango com bacon

Eu experimentei três espetinhos. O primeiro era de frango com bacon. Diz a regra que nada com bacon pode ser ruim. Eu acredito. Mas este frango também estava especial. Carne macia, bem temperada, saborosa… tem um sabor particular, daqueles que surpreendem.

Espetinhos de cordeiro e queijo coalho
Espetinhos de cordeiro e queijo coalho

Depois veio o de cordeiro e o de queijo coalho. Diz outra lenda que nada que vai queijo pode ser ruim. A expectativa continua se confirmando, e ambos estavam uma delícia. Destaque para o de cordeiro pelo mesmo motivo: tempero. Acertar tempero e ponto de carne de cordeiro não é pra qualquer um, é onde nós separamos os homens dos meninos.

Para acompanhar o churrasquinho escolhemos o Kit Churrasquim. Três outras delícias da casa: farofa caseira, vinagrete e molho chimichurri. O chimichurri, pra quem ainda não conhece, é aquele molho argentino/uruguaio muito apreciado por estas plagas e que combina muito bem com as carnes servidas lá.

Mandioca frita com bacon
Mandioca frita com bacon

Pedimos, ainda, uma porção de mandioca frita com bacon. Já falei que se vai bacon não tem crise, né? Mesma regra se aplica a esta mandioca. Petisco feito na hora, saboroso e fresquinho. Acompanhou bem os demais quitutes que experimentamos.

Além de comida e bebida boa, e de ser uma excelente alternativa à mesmice, o preço é atrativo, mesmo ficando na Beiramar. Os espetinhos que comemos custam entre 6 e 12 reais cada, a porção de mandioca módicos 15 dinheiros e por menos de 5 você tem o tal kit com acompanhamentos e molhos.

Em 2001 o Figueirense subiu para a Série A, algo impensável com o fraquíssimo desempenho de outrora. No jogo “do acesso”, meu pai e eu ficamos abraçamos por alguns minutos, chorando, atrás da trave onde saiu o milagroso gol do sujeito chamado Abimael.

httpv://www.youtube.com/watch?v=DgZoUOJLcJQ

Em 26 de junho de 2004 o Figueirense jogava contra o Flamengo no Rio, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. O primeiro tempo acabou com empate sem gols no placar, meu pai sentiu-se mal e pouco antes de recomeçar o jogo ele era reanimado na UTI de um hospital, após um infarto. Três desfibrilações foram necessárias, uma pra cada gol. O Figueirense bateu o Flamengo por 3 a 0 contrariando todas as expectativas. Meu pai sobreviveu e ficou alguns anos sem ir aos jogos. Eu lhe dei o último abraço por causa de futebol e jamais voltei a comer churrasquinho-de-gato no Estádio.

Obrigado, Churrasquim, pela viagem num tempo muito, muito especial!

Churrasquim

  • Endereço: Rua Altamiro Guimarães, 2297. Centro, Florianópolis.
  • Telefone: (48) 3206-0512
  • Horário: diariamente das 17h às 2h.
  • Aceita cartões: sim

3 thoughts on “Churrasquim: de carne, abraços e futebol se faz um espetinho de gato gourmet

  1. Achei essa matéria por acaso e apesar de não comer carne adorei como vc relatou a relação do futebol com união entre as pessoas, no caso o seu pai. Tirando o lado sujo (empresários e cartolas), não há nada mais emocionante no mundo que um jogo de futebol.

    Saudações d’O Mais Querido!

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