Dauri Lanches: resistindo ao tempo e exportando chapeiros

Já tentei, mas não consigo ir no Dauri sem o sentimento nostálgico da primeira lanchonete onde lambuzei os beiços com maionese caseira. É impossível não lembrar da cena do meu paladar se abrindo pra esta iguaria maravilhosa que é um bom xis arte, xis moleque, de várzea. Como no Fantástico Mundo de Bob, diversas cenas, só que reais, me vêm a cabeça, como a da porção de “miudinhos”, como meu pai chamava, um sem-número de corações de galinha grelhados na chapa e dispostos sob um pequeno monte de farinha de mandioca, fatias de limão taití e folhas de alface, tudo isso comportado numa pequena travessa duralex, com cor característica da marca nos anos 90.

Em formato de drive-in, o que aqui chamamos de “drive”, era possível comer no carro ou nas mesas de madeira com bancos inteiriços para cerca de 4 pessoas, uma espécie de versão rústica dos restaurantes sessentistas americanos de fast-food, coberto com uma lona característica destes antros de perdição gastronômica. O estacionamento do supermercado Comper recebia desde famílias querendo uma refeição nada saudável, grupos indo ou vindo de alguma “night” (balada era um termo ainda não cunhado na época) e torcedores do Figueirense em passagem ao Estádio Orlando Scarpelli, o grande e majestoso vizinho, que em dias de jogo esgotava suas garrafas servindo “maracujazinho a 1 real”.

dauri-lanches-entrada

O Dauri infelizmente faleceu por estes tempos. Antes, porém, teve que se mudar para a Praça Renato Ramos da Silva, atrás do saudoso Colégio Aderbal Ramos da Silva, onde este que vos escreve concluiu o primeiro e se formou no segundo grau. A praça que já viu este humilde blogueiro jogar seu futebol moleque nas aulas de Educação Física do professor Geraldo agora comporta um playground pra gente de todas as idades, está bem iluminada, tem um posto da Polícia Militar e no seu coração o entupidor de artérias conhecido como Dauri Lanches.

Perdeu-se um pouco do charme que antanho, embora o lugar esteja mais bonito. Perdeu a graça de estacionar o carro no amplo estacionamento do supermercado e pedir o lanche no carro, com aquelas bandejas metálicas adaptadas para os vidros do veículo. Perdeu-se grandes chapeiros que viraram lendas e até hoje mostram todo o seu potencial, como o Eduardo que hoje tem negócio próprio no Bar do Casinho, ali nas redondezas, ou o próprio Cabeça, do Cabeça Lanches que hoje já comprou até o Burgão, em São José. Foram-se garçons para algum lugar do mundo onde o Sol brilha mais fraco, mas não perdeu o orgulho nem a dignidade: ainda é um grande xis. Não é o mesmo de sempre, admito, talvez este texto lhe cause grande expectativa. Mas é digno e recusa-se cair no ostracismo das velhas lanchonetes da cidade.

dauri-lanches-xis-alcatra

Na noite do último domingo comi um Xis Galinha com Calabresa. Pedi Xis Galinha com Bacon, o lanche que aprendi a comer com minha mãe neste mesmo lugar, mas o bacon estava em falta. OK, a dignidade se foi por um instante, mas o Dauri tem a licença poética comigo. A foto mostra um Xis Alcatra, igualmente saboroso.

Uma boa novidade é que agora além da maionese tradicional temos a versão verde. Ou seja, se maionese caseira é bom, imagina poder escolher entre maionese caseira e maionese caseira com cheiro verde. Traz uma porção de alface pra comer com maionese aí, tio!

dauri-lanches-garçom

O restaurante em um espaço pequeno por dentro, mas no seu entorno a praça se faz um palco com mesinhas de plástico, típicas de xis, podendo saborear o seu lanche ao ar livre nas calorosas noites de verão do Balneário do Estreito.

Um pequeno pedaço de paz e tranquilidade na “pracinha do Balneário”, onde os velhos dali já elegeram para o seu diário dominó, em meio a um bairro em constante evolução, cuja erupção de prédios e gigantescas construções nada ofuscam a nostálgica sensação de comer no grande, resistente e atemporal Dauri Lanches.

Dauri Lanches

  • Endereço: Av. Santa Catarina, 1197 (Praça Renato Ramos da Silva). Balneário do Estreito, Florianópolis.
  • Telefone: (48) 3248-9993
  • Aceita cartões: sim

4 thoughts on “Dauri Lanches: resistindo ao tempo e exportando chapeiros

  1. Parei lá outro dias desses, num sábado por volta da 0:30, estava procurando um lugar pra matar a fome; típica lanchonete brasileira, atendimento, comida e preço bom, comi um x frango com adicional de bacon beeeeeem caprichado, valeu a pela, no mais sem muito o que falar rsrsrsrsrs.

  2. O endereço não é esse, procurando no google se encontra com esse endereço, mas a rua da praça é a Sérgio Gil.

  3. Olá boa noite. Me chamo Pamela filha do senhor Valmor o melhor chapeiro do saudoso Dauri. Com muito orgulho meu pai criou 5 filhas com essa profissão. Meu pai seu Valmor foi o chapeiro que trabalhou mais tempo no seu Dauri, era um funcionário muito dedicado só faltava o trabalho realmente quando estava doente e muito doente. Tempos depois meu pai abriu a lanchonete X Point também no Estreito. Meu pai conta cada história da época em que trabalhava no seu Dauri…. Meu pai será eternamente grato pelo seu Dauri ter dado a oportunidade dele ter trabalhado neste lugar maravilhoso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *