Muito manezinho nascido e criado jura de pés juntos que a figueira é a árvore-símbolo da cidade de Florianópolis. Não é. Uma rápida pesquisa nas internês, caso seu colégio tenha ignorado este detalhe importantíssimo na sua formação, nos revela que a árvore de Floripa é o garapuvú. Mas bem que poderia ser a figueira. Não só um dos mais importantes cartões postais da cidade, a Praça XV, ostenta um exemplar centenário da espécie, como em vários pontos pode-se observar esta árvore dando sombra e imponência.
A figueira tem toda uma simbologia atrelada a ela. Em alguns religiões, inclusive, exercem importância fundamental em alguns momentos. Para os cristãos, por exemplo, é a primeira árvore a ser citada na Bíblia. Foi embaixo da sombra de uma figueira que Buda teria conseguido sua elevação espiritual. Os judeus a consideram o seu fruto, o figo, um dos alimentos sagrados.
Outro fato é que nem toda figueira dá frutos. Principalmente a encontrada na mata atlântica, e muito comum neste litoral, a Ficus insipida. O nome já diz tudo, os frutos que ela produz não são comestíveis por seres humanos. Não tem sabor. Mas o que a dendrologia não sabe explicar é porque no Ribeirão da Ilha existe uma espécie que dá um dos melhores frutos… do mar.
Trata-se da Santa Figueira. Uma árvore grande e majestosa, hoje cercada por decks de madeira e mesas confortabilíssimas, num espaço cujo parapeito dá de frente para o mar do Ribeirão da Ilha, com um excelente visual para uma refeição saborosa com os seus frutos do mar.
A Bárbara me convidou pra conhecer e o Ian foi junto porque provavelmente nem ele acreditou nessa história. Asseguro que era tudo verdade da chef de cozinha de uma outra Santa, mas essa você conhecerá nos próximos dias. A comida era como um maná, que a religião não ousará desmentir sob pena desta árvore tão simbólica ser alvo de heresia.
A Santa Figueira nos recebeu com um couvert. Pães caseiros, muito saborosos e macios, recém saídos do forno com pasta de berinjela e sardela.
Mas queríamos mais de entrada, então pedimos que a Santa Figueira nos surpreendesse. Como quem atende uma prece ela nos deu um Vol-au-vent (descobri que pronuncia-se “vulavan”), ou melhor, um kit destes “copinhos” de massa folhada com recheios diversos: Camarão ao Champagne, Siri ao Saquê e red curry e Funghi. Três de cada.
Depois fomos de Ostras Gratinadas à Figueira. Creme de champagne, queijo gruyere e gorgonzola, salpicada com parmesão. Uma dúzia de um fruto típico que as figueiras do Ribeirão dão nessa época do ano, já bem gordas e saborosas. Até porque ir no Ribeirão e não comer ostra é mais feio que bater na mãe. As ostras foram acompanhadas de molhos incríveis: chutney de manga, pesto genovês, molho de limão siciliano e ervas de provence, agridoce e geléia de pimenta.
Para os pratos principais fizemos um mix de duas opções. Com 5 pessoas na mesa era mais inteligente que pedíssemos duas opções e cada um experimentaria um pouco de cada. Só bons gordos tem essa noção. E a Santa Figueira nos deu primeiro o Polvo Thay. Ah, o Polvo Thay. Ainda que eu falasse a língua dos anjos e falasse a língua dos homens conseguiria explicar o sabor deste prato.
Muito macio, talvez o mais macio que eu já tenha experimentado por dentro e por fora empanado e crocante, bem temperado e salgado na medida, me dá vontade de orar em línguas estranhas tamanho o pentecostes gastronômico desta comida.
Depois recebemos, ainda embriagados pela paisagem e pelo sabor, e em reverência ao culto comideirístico do local, o Linguado Grelhado na manteiga aromatizada com água de rosas. Eu achei tão bonito e perfumado que quase joguei pra Iemanjá. Odoiá Odofiaba! Certeza que ela estava ali na beira da praia esperando.
Ambos pratos vinham com acompanhamentos. O Linguado veio com couscous marroquino com frutas secas além de um molho rosé. Já o Polvo Thay veio com um delicioso arroz ao leite de coco, alho e brócolis.
O atendimento da casa é fenomenal. Fomos muito bem acolhidos pela dona Márcia, uma figura ímpar, como poucas que conheci neste meio. Muito gentil deixou-nos o mais confortáveis possível e anotava atencioasmente tudo o que era pedido. O Chef Beto, outro cara incrível, vinha às mesas verificar se tudo estava perfeito. E estava.
Sempre falo do ambiente, mas desta vez deixarei a foto acima falar por ele. Dentro é tão bonito quanto por fora. Quem quiser crer, que creia.
Toda esta comida, com direito a uns 5 baldes de cerveja, caipirinhas de cachaça artesanal e água saíram por R$100 por fiel.
Se existir céu, e eu for pra lá, espero que tenha uma Santa Figueira me esperando. Eu só sou agnóstico porque acredito nesta promessa. Converta-se!
Santa Figueira Bar Restaurante e Petiscos
- Endereço: Av. Baldicero Filomeno, 6300. Ribeirão da Ilha. Florianópolis.
- Telefone: (48) 3337-0598
- Aceita cartões
Daniel, esse post tá demais! Adoro a maneira como escreves! Confesso que te imaginei meio “altinho” redigindo este texto, de tantos sorrisos e até mesmo risadas me arrancastes…”Odoiá Odofiaba” foi demais! hahahahahaha
Parabéns!
Ahhh esse polvo tá me chamando!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Hahahaha, pior que eu sempre escrevo sóbrio. Ou melhor, raramente estou “altinho”. Mas nada como se fazer de louco pra sair umas coisas diferentes. Obrigado pelo elogio, fico feliz e envaidecido por ele! 🙂
Se eu fosse escritora, gostaria de escrever como tu. Que post maravilhoso! Leve, inspirador e agradável, e que lugar lindo!
Beijos
Orra, depois dessa eu vou me achar O ESCRITOR. hahahaha. Obrigado, Rê, sempre muito generosa! 🙂 Beijos.
Melhor que a “cara” desse polvo, que parece divino, foi o seu texto!
Que lugar e que astral!
Quero ir em breve!
Parabéns pelo post!
Oi Cyntia! Obrigado, querida! 🙂 Vá lá sim, é uma delícia! Beijo!
Amei o texto ! Como vc escreve bem, mt inteligente, sagaz e que bela reverência, par a par com o manà do Santa Figueira”.
Oi Jacinta,
fico muito feliz com o teu comentário, muito obrigado pela generosidade do elogio! Que bom que gostou do texto, volte sempre! 🙂
Cabeçao! mandou bem! Beto merece todo confete que lhe cabe neste carnaval!!!!!!!!!!!hehe!!
Adorei, adorei e adorei! Este post está sensacional!!!
Obrigado, Pri! 🙂
Nossa!!!!
Fiquei sem palavras…
Simplesmente INCRÍVEL…..
E muito obrigada pelos elogios.
Quem deve agradecer a gentileza e simpatia sou eu.
Todos, principalmente a BARBARA, ela sim é uma pessoa unica!!!
Estamos com saudades…e agora muitas novidades no cardápio (novo).
Abraços
Márcinha
Obrigado, Marcia! Fico muito envaidecido com seu comentário aqui no blog. Com certeza retornarei em breve 🙂 Abraço!
Embora eu seja suspeito pois o Beto Caron é meu irmão caçula, ele com certeza é um dos grandes chefs do Brasil.
Parabéns pela reportagem e pelo teu talento em descrever os pratos e as instalações.
Um abraço.
José Manoel de Macedo Caron Jr.
Curitiba-Pr.
Obrigado, José Manoel!
Um absurdo dizer que esse é um bom restaurante.
Cheguei às 14h, após ter feito uma reserva. Esqueceram de reservar e não tinha mesa. Deram-nos, após 10 min, uma improvisada que estava bamba e tinha uma parte maior que a outra. O pedido só pude fazer porque levantei eu chamei o garçom.
Pedimos o couvert, que não veio.
Quando outra mesa vagou, mudamos. O gerente, ao invés de reconhecer o equivoco inicial, tentou nos barrar na mudança.
Nova mesa, a entrada levou 30 min pra chegar. O couvert? Após 5 pedidos, cada um pra um garçom diferente, veio com 1 hora de atraso!
Aguardamos o prato principal. Todas as mesas que chegaram depois foram servidas. Já haviam se passado 2 horas! Fomos reclamar com o gerente. A resposta? O garçom esqueceu o pedido no bolso.
A pergunta: vc almoçaria lá? Eu não! Saímos e fui, às 16h, almoçar num lugar que respeitasse o cliente. Nunca mais.
Que coisa, heim? No dia que fiz a visita correu tudo bem.