“A ignorância é uma espécie de bênção”. Já aprendi que atribuir autores às frases com rápidas buscas na Internet não é algo muito inteligente, essa foi atribuída a John Lenon. Mas como não é importante saber se o pato é macho, queremos é que ele bote ovo, me atenho única e exclusivamente a frase.
A ignorância é uma bênção. Uma bem-aventurança. Quanto mais informação você adquire, mais você cria uma espécie de responsabilidade sobre ela. E com essa sensação de responsabilidade, mais ansiedade acumula. A menos que você tenha algum problema mental degenerativo, tudo o que você descobrir/aprender/conhecer carregará consigo até o último suspiro. É um canal de mão dupla que se alarga e nem os anos mais longevos o farão voltar ao seu estado anterior.
E aí que mora o problema, principalmente para o contexto que trago nesse post: quando você conhece uma comida ou bebida melhor preparada da que você tá acostumado, mesmo que elas não necessariamente se cruzem numa relação de concorrência justa (competir cerveja artesanal com cerveja industrial aguada, por exemplo), você dificilmente volta à antiga paixão.
Isso pode ser interpretado de duas formas:
1) você tá crescendo, evoluindo no ramo gastronômico e descobrindo sabores, conhecendo aromas, desfrutando do que a vida tem para oferecer de bom.
2) você vai ficar ansioso pra cacete quando descobrir que o bom custa caro e não pode ser consumido diariamente e precisará comer cada pedaço daquele prato normal pensando “naquela vez que fui à São Paulo num restaurante bacana”.
Passei por isso recentemente quando experimentei o hamburguer do Armazém Classic Burguer, em detrimento do xis comum. Ou quando o Guilherme me apresentou a La Trappe (ou um gole das outras cervejas bacanas que ele toma) que jamais vai me deixar tomar uma Stella Artois sem lembrar do gosto cítrico da laranja notada na cerveja trapista.
Estou pra conhecer uma casa de sushi há pelo menos três semanas, indicada por amigos, e que custa pelo menos o dobro do preço das que costumo frequentar (e que já não são lá muito baratas, como a cozinha oriental não o é). Desenvolvi uma espécie de ansiedade porque sei que muito provavelmente vou gostar, e não tenho certeza se conseguirei novamente voltar às origens do sushizinho velho de guerra a 30 conto.
É necessário reforçar que isso não é desdém do já experimentado e que já muito comi e bebi e continuarei fazendo, trata-se apenas da observação do viés que a evolução da economia e a porta de entrada globalizada nos propõe: podemos agora beber cerveja tcheca e criamos angus no nosso quintal, mas nossos salários jamais serão os mesmos e acompanharão o nosso novo e mais diversificado paladar.
Isto posto, o que você acha? Acontece com você ou estou atingindo o nível 7 numa escala de 0 a Glee?
Como se diz: o paladar não acompanha o bolso que tem. Estamos no mesmo barco!
Mas é inevitável como o chef canadense Guy Rubino disse: você que “aquilo” é ruim por ter comido coisa melhor.
Obrigado pela referência no blog. E melhor ainda por ter se impressionado com um bela cerveja e ver o quanto de dinheiro já jogou fora com as “pilsens” aguadas.
Infelizmente nos mostraram que a gastronomia e uma comida bem feita deve ser cara. E pior ainda o brasileiro ter acatado isso.
Mas antes de pensarmos em gastronomia e preço, temos que levar em consideração o que vale pagar e o que não vale gastar. Como profissional da área, já pude aprender. E antes mesmo de tudo isso, o consumidor terá que aprender que comida é emoção, satisfação, prazer e não somente um ato de comer e matar a fome. Quando aprender isso tudo, verá que um simples cachorro-quente da esquina é tão bom quanto um excelente “burguer gourmet”. (isso não vale para as cervejas, já que as industriais não tem gosto de nada rsss)
Hahahaha, é bem por aí mesmo. Já passei por isso com vinhos, massas, chocolate, hamburguer, queijos, vodca e até com frutas… a lista só aumenta!
Ainda não tive coragem de comprar a La Trappe (mas namoro toda vez que vou ao mercado perto de casa). No aniversário do ano passado ganhei uma cerveja “de rolha” sensacional, mas SEMPRE esqueço o nome. Vou pesquisar e depois te mando. É mais barata que a La Trappe. 😉
Concordo plenamente! Isso vem acontecendo comigo há bastante tempo, em especial com chocolates (meu vício). Depois que experimentei os belgas, a Nestle vem perdendo espaço na minha despensa!
Em contrapartida, seu texto me lembrou um vídeo do TED, em que Benjamin Wallace apresenta suas experiências com as comidas mais caras do mundo e, conclui, com muita graça, se aqueles preços são realmente relacionados à qualidade. Vale dar uma olhada: http://www.ted.com/talks/benjamin_wallace_on_the_price_of_happiness.html
Abs,
Amelí
Acontece mesmo. Eu sou uma curiosa gastronômica de carteirinha. Quero experimentar tudo que é diferente do nosso convencional. E isso traz consequências. Uma vez, meu namorado e eu estávamos nos aventurando na cozinha preparando quitutes da culinária mexicana. Oferecemos um prato para um amigo e ele disse: Não, obrigada. Eu não como nada diferente da minha comida habitual. De repente ele estava certo em não provar. hehehehe! Mas eu ainda acredito que curiosidade é um lindo dom.
Adorei o texto! E concordo plenamente! Eu sofro por ter me tornado admiradora de uma boa gastronomia. Amo escargot, carnes exóticas, bom champagne e foie gras (embora seja contra a maneira como os animais s’ao tratados para a tal iguaria ser feita). Não apreciava nada! Mas depois de morar nos EUA por 6 anos como gerente de restaurantes de um chef famoso por lá, tive que aprender a comer…e comer bem! No fundo só me ajudou. Mas quase nunca precisei colocar a mão no bolso pois sempre funcionava como uma troca de favores entre gerentes… infelizmente ainda no Brasil boa gastronomia é sinônimo de preço alto. Em SP um bom sushi é um sushi caro, uma boa comida nacional é comida do D.O.M. Por isso que passei a apreciar a baixa gastronomia tb e os prazeres que as comidas simples mas bem preparadas podem nos proporcionar.